quinta-feira, 3 de janeiro de 2008




Pranto por Ignacio Sánchez Mejías

Inácio Sanches Mejías era um jovem, grande toureiro espanhol, amigo do poeta Federico Garcia Lorca. Ignácio foi ferido por um touro na coxa e morreu poucos dias depois de gangrena, em terrível agonia.
O sepultamento de Kaká também foi às 5 horas da tarde e não me saía da cabeça este poema, dividido em 4 partes.

PRANTO POR INÁCIO SANCHEZ MEJÍAS
1935. Federico Garcia Lorca


1 . A CAPTURA E A MORTE


Eram cinco horas da tarde.
Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.
O mais era morte e somente morte,
às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões,
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.
Já pelejam a pomba e o leopardo,
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.
Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E touro todo coração ao alto
ás cinco horas da tarde.
Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando a praça se cobriu de iodo
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.
Às cinco horas da tarde.
Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.
Ossos e flautas soam em seus ouvidos
às cinco horas da tarde.
O touro já mugia por sua frente
às cinco horas da tarde.
O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.
Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.
AI QUE TERRÍVEIS CINCO HORAS DA TARDE !
ERAM AS CINCO EM TODOS OS RELÓGIOS !
ERAM AS CINCO HORAS DA TARDE EM SOMBRA !

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